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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Hoje à noite não tem luar

Amanhã é o grande dia. A novidade é absolutamente anônima, desconhecida e minha. É a tão sonhada oportunidade do recomeço, de fazer as coisas certas, e, enfim, chegar lá. Mas não é a reunião às 10:40 com jovens inexperientes e desinteressados que me ocupa agora, nem o lucro a ser obtido. Não estou pensando no papo agradável do carismático Gabriel ou na nova desculpa que vou dar à Larissa depois que não bater à sua porta. Na verdade, eu não consigo pensar em mais nada além da Manuela.
Era pra ser mais uma noite inteirinha com ela, uma puta prova de fogo. Sabe como é, ela tem aquele jeitão moleca, solta, abraçada com os mais intensos prazeres sexuais. É do tipo de mulher que, ao responder um questionário que perguntava "Estado?", ela respondia "excitada", de bate-pronto.  Santa Manu... Ela mexe comigo e sempre soube disso, então, me provocava. Foi o que ela fez desde que entrei na sala, atordoado, a procura do meu grupo de trabalho. Manu não me largou nem por um instante, mesmo eu fazendo de tudo para rejeitar sua presença e suas investidas. Desviei o olhar, mas não podia fugir dali, da presença dela. Era minha missão e fardo da noite: dividir cada metro quadrado daquele maldito espaço com ela. Joguei verdades e mentiras, fiz oração, contei carneirinhos, usei minhas armas e trabalhei com afinco na minha defesa. Problema é que ela conhecia cada passo que eu podia dar, sabia meus pontos fracos, cada um deles. Fui facilmente desarmado.
Em poucas horas já tínhamos feito de tudo: bebemos até cair, conhecemos gente nova, demos beijo triplo, salvamos uns gatinhos, pedimos carona na Joana Angélica, tentamos suicídio, fizemos juras de amor, sequestramos a nossa razão. Enfim em casa. Agora, estávamos nós dois, nus, trepando a céu aberto, enchendo os olhares dos curiosos de tesão e inveja. Percorri minha boca na nuca dela, beijei aqueles lindos e fartos seios,experimentei cada dose de prazer que dela podia gozar. Ela me mordia como que fazendo uma tatuagem, demarcando um território que sempre foi dela. Ela meneou com a cabeça enquanto se contorcia de prazer. Gozamos até o amanhecer. Amanheci com a minha linda Oyá, com a mãe do entardecer. Não pudemos passar desta manhã. E, logo cedo, numa manobra mística, ela se foi com o vento. Minha Manu, minha deusa Oyá, partiu como uma tempestade, destruindo a tudo que estava pelo caminho. Levou meu "eu te amo" para o abraço de outro. Me deixou só com meus lençóis, com aquele cheirinho de saudade, aquele resto de nós.

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