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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Titanic

Cair, se deixar derrubar, perder a guerra, entregar-se aos afagos condescendentes e aos olhares de pena. O fracasso é mesmo muito fácil. Sobram almas miseráveis querendo estar perto quando você está mal. Eles fazem questão de estar na primeira fileira, querem ver de camarote a sua desgraça, enquanto se empanturram de pipoca e refrigerante. É fácil achar um "ombro amigo", afinal, estão todos curiosos por saber como foi que você se fodeu.
A tentação da desistência tem sido grande. Meu maior inimigo continua à espera de uma oportunidade para me nocautear. Ele se aproveita do jogo sujo, da vida injusta, se utiliza de tolos que ainda ouço, faz de tudo um pouco. Inventa histórias, diz que as coisas não são simples, transforma um medo numa síndrome do pânico, uma meditação em uma conversa longa e esquizofrênica, cria autismos e baixo-estimas. Me encara todos os dias com aquele olhar de desprezo, como quem olha pra um completo lixo. Pior é que, às vezes, ele me convence. E aí fica fácil se encher de todo tipo de veneno alucinógeno. Faço festas intermináveis, bebo mais do que o velho "Lilico Trilhão", trepo até em banheiro de shopping. Uma a uma, vou experimentando as drogas da vida, tentando encontrar algo que possa me anestesiar. Tenho essa tendência à fuga, à esbórnia. Encarar os gigantes e dar a cara a tapa é muito difícil, parece doer mais.
Escrever já não faz tanto efeito. Vai ver é por isso que parei. Não acredito mais em poemas, naqueles versos falsos e repetidos. Prefiro as rimas do amigo Flip. Sujeito bom, muito inteligente, com uma energia positiva, capaz da façanha de me fazer dar verdadeiras gargalhadas. Queria um terço da coragem e confiança do Flip. Poderia, enfim, dizer foda-se pra trocentas pessoas, poderia abraçar o que amo e que realmente vale à pena, sem me importar com terceiros, apenas a primeira pessoa de qualquer verbo, me fazendo núcleo do sujeito de toda oração. Fato é que, agora, orações, sujeitos e predicados apontam os pecados cometidos dia após dia. Estou navegando no inseguro, pronto - ou não... - para o colapso com o gigante iceberg a se aproximar. E a pergunta é: que porra eu vou fazer quando afundar?

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