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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

"Somos ilusão no deserto"

O turbilhão foi se apagando, pouco a pouco desaparecendo. Uma estranha paz invadiu e o resultado: desastre. Um poeta vive do caos, de um insuportável inferno interior, um tsunami de palavras e ideias que assombram e berram aos ouvidos do consciente. Os gritos se seguem até que a agonia seja incontível. Aí o poeta sangra, deixa o suor escorrer, a lágrima jorrar. Então ele vomita a dor convertida em palavras ritmadas. E aquilo que o faz chorar, sofrer uma eternidade a cada segundo, se torna a mais bela e doce ilusão daqueles que não sabem sonhar. Sem esse caos, o poeta é mais um esquecido, é apenas mais um em busca do Santo Daime da vida, um projeto fracassado de um poema lido na taberna. O turbilhão precisava voltar...
Foi preciso ficar louco, basear-se num baseado pra achar sentido em conversar com Jah no outro lado, no outro plano. O poeta fez de tudo. Passeou em templos e terreiros, comeu da feijoada de Ogum, rezou ao "padi Cisso", sincretizou demônios e cristãos numa bíblia particular. Foram dias ingratos antes de ter a graça do sagrado encanto de uma mulher outra vez.
Que ela saiba a verdade desses anjos caídos. Há de saber que são intensos, apaixonados, entregues, são amantes da vida plena, amam como se o mundo fosse acabar no próximo minuto, e vai acabar. Há de saber que são santos e loucos, que abarcam a tudo, abraçam o mundo, que são inteiros de todos, mas são nada de si. Que ela saiba aceitar a realidade quando acordar. Há de saber que o poeta é o mais belo vazio que existe.

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